Em primeiro lugar conversamos sobre o assunto e depois pedi aos alunos que contassem, por meio de um texto, como acontecia a comemoração da Páscoa em sua casa com seus familiares.
Foi bem produtivo, pois envolveu também o trabalho com a Língua portuguesa e principalmente a questão dos rituais, visto que há diversas segmentos religiosos na turma. O respeito à crença do outro e a maneira bonita que cada um tem de celebrar o evento foi interessante. Houve situações em que pude verificar que o evento do calendário é encarado como um feriado prolongado para viagem, em outro como período de jejum e oração, outro ainda como fato histórico, mas o principal é claro, para as crianças, período de brincadeiras, como malhar o Judas e procurar ovos escondidos.
As crianças pediram também que eu contasse sobre a minha comemoração, então disse que faria de lição de casa um texto contatando sobre a Páscoa na minha vida e levaria no dia seguinte. Bom, dar lição de casa para a professora foi uma coisa deliciosa!
O texto ficou assim:
A Páscoa em minha vida
Vou
contar a história da Páscoa em minha vida. Ela começa falando de quando eu
ainda era criança.
Minha mãe preparava
nossa cesta.O trabalho começava na Quinta-Feira Santa (que é o nome dado ao dia
em que Jesus celebrou a Páscoa judaica com seus discípulos, ou seja, a última
ceia). Neste dia ela pintava as casquinhas de ovos que havia guardado durante
toda a Quaresma (período de 40 dias que antecedem a Páscoa e serve para os
cristãos lembrarem do valor do arrependimento) e também fazia bolachas caseiras
que ela pintava com claras em neve e açúcar colorido.
Na Sexta-Feira Santa (o
dia da Paixão, que tem esse nome, pois Deus prova o seu amor para conosco pelo
fato de seu filho ter morrido por nós) ficávamos mais tristes e não podíamos
falar muito alto e nem comer nenhum tipo de carne, pois, segundo orientação de
meus pais, era um dia de jejum e oração em memória do que as autoridades
judaicas e romanas fizeram com Jesus, que definitivamente não foi algo bom.
No Sábado Santo (dia em
que Jesus descansou do seu trabalho de providenciar a “salvação” para o mundo),
lembro que os preparativos para o domingo de Páscoa começavam a se
intensificar. Ajudávamos a organizar a casa, assistíamos filmes sobre a Páscoa,
que passavam na televisão, enquanto minha mãe ficava na cozinha preparando
amendoim doce que depois colocava dentro das casquinhas que havia pintado.
Neste dia eu gostava de ir dormir mais cedo para que a páscoa chegasse logo.
Havia uma lenda de que
o coelho passava primeiro pelas casas das crianças que já estavam dormindo e eu
acho que isso acontecia mesmo, pois no Domingo de Páscoa, antes mesmo do sol
nascer, no escuro do meu quarto eu já avistava minha recompensa. A cesta era
linda! Feita de caixa de papelão (igual aquela que recebemos junto quando
compramos um sapato ou tênis), mas ela estava muito bem disfarçada com franjas
de papel crepom colorido, coladas ao seu redor. Dentro dela havia guloseimas
como: ovos pintados e recheados com amendoim doce, balas, bolachas caseiras e
ovinhos de chocolate. Ah, esses eram tão pequeninos que só mesmo poderiam ter
sido colocados por coelhos de pelos coloridos (coelhos botam ovos?). Talvez
fossem de passarinhos.
Mal conseguia apreciar
essas maravilhas, pois minha mãe já avisava que era hora de se preparar para a
missa. Ah, vale lembrar que a missa desse dia também era esperada, pois antes
dela acontecer nenhuma guloseima da cesta poderia ser digerida.
Era dia de oração, de
alegria e de abraçar amigos e vizinhos desejando “Feliz Páscoa”.
Durante a minha vida
carreguei essas lembranças e passei como herança aos meus filhos, que todos os
anos, mesmo adultos, recebem sua cestinha de Páscoa, com algumas guloseimas e
cheias do meu amor. Hoje a vida é mais corrida, nem sempre consigo guardar
cascas de ovos e menos ainda fazer bolachas caseiras. Mas sei que não são as
coisas materiais que fazem os momentos inesquecíveis, mas sim, nossas atitudes
de solidariedade, amor e fé. Presentes que Cristo nos deixou no dia da Páscoa.
Professora Marinês
Ofereci a cada aluno uma cópia, enfatizando muito bem que esta não corresponde a uma "maneira certa" de comemorar a Páscoa, mas sim que apenas se tratava de um texto contando sobre a maneira como a minha família comemora e assim como as comemorações vividas por eles podem se transformar em histórias incríveis.
Aproveitando o material impresso que providenciei para que cada um pudesse ler individualmente realizei alguns encaminhamentos na área de Língua Portuguesa:
- Depois da leitura pedi que numerassem os parágrafos e escolhessem uma cor para pintar cada um deles (incrível como ainda precisamos fazer esse trabalho no 5º Ano, mas ajuda muito à criança se localizar no texto).
- Conversas sobre a função do parênteses no texto.
- Identificar oralmente a ideia central de cada parágrafo (ajuda a perceber a forma de organização do texto e contribui para que comecem a organizar também suas produções).
- Sublinhar no texto o nome dos dias da semana e questionar por que estão escritos com letra maiúscula.
- Observar e copiar do texto as palavras SEXTA E CESTA. Procurar no dicionário as palavras e escrever frases em que estas palavras sejam usados em seu contexto correto.
- Pesquisar outras palavras que apresentam a mesma situação e listas coletivamente no quadro para depois registrar no caderno (mau e mal, etc).
- Reescreva a frase abaixo como ficaria se fosse mais do que um coelho:
- Havia uma lenda de que o coelho passava primeiro pelas casas das crianças que já estavam dormindo e eu acho que isso acontecia mesmo, pois no Domingo de Páscoa, antes mesmo do sol nascer, no escuro do meu quarto eu já avistava minha recompensa.
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